Crônicas do cotidiano: Chico Xavier

Sou espiritualista, convicto, gosto muito de ler sobre o espiritismo e entendo que essa
doutrina espirita ou Kardecismo são no meu entendimento, uma filosofia reveladora e única
sobre o caminho que a alma percorre nessa vida.

Ela tem um entendimento (do meu ponto de vista), razoável para explicar uma série de
eventos que acontece com todos, para quem já passou, passa ou passará.

Teve uma época em minha vida, levado por minha mãe, espirita convicta e já desencarnada,
que eu tentei caminhar espiritualmente e me tornar espírita, mas cedo, percebi que apesar de
ser médium, não conseguia atingir a espiritualidade necessária, sem a ínfima parte para ser
considerado espirita; Além do fato de nunca ter me entregado ao aprendizado físico e na
primeira ação, totalmente estranha que aconteceu comigo, dei o fora rapidamente…

Anos depois, fui forçado à encarar o inimaginável (numa sala de UTI) onde tive uma
passagem indescritível e passei a levar em altíssima consideração o que passei e dai quis
entender melhor o espiritismo, mas nunca me deixei levar pelo chamado…Sou um rebelde
com um dom maravilhoso, tomara que escrevendo, receba perdões e bençãos para amenizar
meus carmas acumulados sobre esse assunto.

O trabalho, a doação, a entrega, o amor total ao próximo, incondicional, muitas tarefas
espirituais, talvez o trabalho mais intenso que há na face da terra, isso é ser médium, vidente
ou não…Muito difícil, ou talvez eu tenha exigido demais de mim nesses atributos e não
tenha dado à mim mesmo a oportunidade e os recomeços necessários…Sempre fui o maior
crítico de mim mesmo nessa e em muitas questões. Esse dom a gente recebe e, não escolhe,
é escolhido.

Dizem que se não desenvolvermos a mediunidade, o dom recebido, nossa vida anda para
trás, isso não aconteceu comigo…Talvez, se tivesse me entregue para valer, estaria num grau
espiritual muito mais elevado, mas também penso que o que tem que acontecer, acontece no
momento certo…Todas as coisas boas que eu desfrutei, foram méritos dos quais
involuntariamente eu os mereci…Todas as rupturas e perdas, deméritos, involuntariamente
ou não, eu também os mereci. Levanto a cabeça e sigo em frente!

Viajo muito até hoje, estou nessa estrada há muitos anos, embora, sinto que está na hora de
reduzir esse ritmo de deslocamentos, está na hora de eu me fixar num lugar onde possa viver
uma vida intensa, mas de outra forma…Aproveitar mais o presente, sem pensar muito no
passado ou planejar o futuro, vivemos somente o presente, o passado na certa passou,
porque lá deixamos pessoas e lugares, amores e sentimentos, raivas, alegrias e ódios (para
quem os tem), culpas e méritos…Retornar, só se valer muito a pena viver novamente algo
que ficou no passado, porque não há garantias, e isso é que torna a vida interessante…

O Futuro, Deus nos dá de presente todos os dias…Temos o livre arbítrio para fazer nossas
escolhas e uma tremenda responsabilidade por isso, é o preço.

Quando ainda estava na ativa, estava indo em direção à Belo Horizonte (estado de Minas
Gerais) e parei para trabalhar por dois dias em Uberaba…Já havia passado por São Paulo,
capital, depois Rio de Janeiro e voltado à São Paulo e havia também permanecido dois dias
em Poços de Caldas (Minas Gerais).

Em Uberaba, distante cerca de 483 km de São Paulo, após trabalhar na cidade resolvi no
final da tarde conhecer o museu de Chico Xavier, o médium mais famoso do Brasil.

Anos atrás, à caminho de Uberlândia que fica distante 108 Km de Uberaba, passava por fora
da cidade e tinha muita curiosidade em conhecer pessoalmente Francisco Cândido Xavier
ou Chico Xavier, nascido Francisco de Paula Cândido; ele gostava mesmo de ser chamado
simplesmente de Chico Xavier…

Na época que eu passava por ali, sabia que uma enorme multidão costumava invadir a
cidade em busca de uma oportunidade para se encontrar com ele, muitos em busca de uma
mensagem dos que já se foram.

Muitos Avós, pais, filhos e netos compareciam com a esperança de serem chamados pelo
nome ou sobrenome no decorrer das sessões espiritas para receber uma cartinha
psicografada por Chico, com mensagem de seus entes queridos que já se foram e, durante
muitos anos, ele procurou levar à todos a maior quantidade possível de mensagens dos
espíritos desencarnados (já falecidos).

Chico Xavier viveu por 92 anos (1910-2002), deu inúmeras entrevistas em jornais
(50-60-200), rádios, canais de televisão e psicografou mais de 450 livros, tendo vendido
mais de 50 milhões de exemplares e também psicografou mais de dez mil cartas…Cedeu
todos os direitos autorais dos seus livros, em cartório, para várias instituições de caridade e
nunca cobrou um centavo para psicografar uma carta…

Isso é ser espirita…Não pela popularidade, mas pela doação. Esse ser iluminado, doou sua
vida até o último suspiro para centenas de milhares de pessoas, dedicação de uma vida
inteira ao próximo, e doou tudo que ganhava para as instituições de caridade…

Voltando à minha visita ao museu do Chico Xavier (Casa de Memórias e lembranças Chico
Xavier), perguntei e não foi difícil encontrar, pois estava hospedado não muito longe, afinal
Uberaba cresceu, mas continua uma cidade relativamente fácil de se locomover.

Esperava encontrar um Templo…Encontrei uma casa germinada e uma porta de entrada
aberta, acesso fácil…Entrei…Dentro, duas moças se apressaram em me receber…Olhei ao
redor na recepção da entrada da primeira casa, e o que vi foram muitas fotos e recortes de
jornal, e algumas seções de venda de livros, CDs e DVDs com preços bem acessíveis, diria
que uma pequena parte do acervo de Chico Xavier estava ali…Perambulei pelo primeiro
ambiente e entrei num segundo, que outrora parecia ter sido uma pequena saleta de
jantar…

Do lado direito, mais fotos…Fotos dele com pessoas comuns, personalidades da
televisão e da política, Senadores e ex-Presidentes do país, empresários famosos, socialites
de todo calibre e ao lado dessas personalidades, ele sempre com olhar generoso sorriso
aberto e postura simples…

Eu devo ter permanecido nessa pequena saleta por uns vinte minutos e tive que olhar
rapidamente as fotos que conseguia ver, de tantas que estavam ali expostas.

Olhei para o lado direito e vi dois pequenos ambientes, separados por uma parede e as
portas voltadas para a saleta…Fiquei curioso, seria ali o quarto que era de Chico Xavier?
Mas eram tão pequenos, cada um continha uma cama pequena, simples, acanhada e apenas
num deles tinha uma pequena janela, que se abria para fora, para um pequeno quintal…
Nesse momento entrou uma pessoa também muito simples, magra, reconheci pelas fotos
que era o filho de Chico Xavier…Ele parou para me cumprimentar e apontou o quarto
pequeno, o sem janela e disse já saindo, que ali Chico morreu…

Meu Deus, fiquei olhando para esse quarto pequenino, uma cama pequena e apertada junto à
parede e incrédulo fiquei pensando…Então nessa pequena casa, viveu um dos homens mais
respeitados e quase uma santidade e nesse minúsculo quartinho ele morreu…Isso não tem
lógica, a gente fica pensando muito nessas questões nessa hora e fico estarrecido…

Que exemplo de espirito evoluído, ele foi coerente do inicio ao fim, transitou por caminhos
onde pessoas se perdem de tanto poder à lhes cercar, à lhes ofertar facilidades e mordomias,
e a escolha dele foi por esse canto simples e quase solitário; Foi íntegro em permanecer o
mesmo homem, mesmo cercado pelos poderosos e pelos aflitos, permaneceu o mesmo,
abraçava com gosto os pobres e mendigos, os leprosos, podendo optar por uma vida de
poder e luxo cercado por gente que o bajulava, devido ao seu prestígio e fama, e terminou
sua vida no mesmo canto em que descansava, depois de tanto levar as suas mensagens de
consolo, as suas palavras de consolo ao próximo…

Continuei pelos demais ambientes, todos recheados de fotos e recortes de jornais e antes de
deixar a primeira casa, passei por uma cozinha pequena…Um bule de café numa bandeja
simples e água e mais algumas fotos de Chico…Tudo muito simples, que benção terem
zelado em permanecer como se ele estivesse saído dali e voltaria daqui à pouco…

Saindo da casa, dei de cara com algumas roseiras, e o perfume cercava a casa…Como
diziam que ele exalava perfume, as Rosas estavam ali para garantir presença.

Na casa anexa, entrei e numa outra sala pequena, armário com vidro e lá estavam os ternos e
os óculos e as gravatas que ele utilizava para comparecer à algum evento quando era
convidado…E algumas dezenas de boinas, que ele adorava usar…

Voltei para o hotel para tomar um banho à tempo de visitar o local onde eram feitas as
preces e oferecidos os passes para as pessoas…Nos seus livros publicados, e já havia lido
vários deles, tinha conhecimento de que ele adorava se refugiar nesse local para se encontrar
com o seu grupo de orações e peguei o endereço e fui até lá.

Tinha certeza que dessa vez iria encontrar um Templo, afinal como narrado no livro, uma
romaria de pessoas enchia esse local e se espremiam para se encontrar com o líder
espiritual…Olhei para o GPS no carro e apontava para uma pequena casa azul de esquina,
por fora, muitas primaveras nos muros, frontal e lateral, mas diria que era um terreno com
uma edícula, um terreno de cerca de 450 m2 quase todo cimentado e com um caminho que
leva até uma edícula quase toda aberta, alguns bancos dentro do salão principal, bancos de
madeiras simples e nas laterais da mesa de oração, mais bancos de madeira…

Foram chegando pessoas que se cumprimentavam sorrindo e felizes, pensei ser
frequentadores habitues do lugar, ledo engano, era o grupo de orações de Chico
Xavier…

Chegou novamente o seu filho e também algumas crianças…Tarde quente, vento
morno, perfume das rosas e o grupo, orientado por uma coordenadora, começou de forma
tranquila uma palestra e trouxe como convidado um senhor que no decorrer do tempo,
relembrou Chico Xavier e a simplicidade e sabedoria desse magnifico ser que esteve entre
nós..

Algumas de suas passagens, suas palavras, suas mensagens….Nesse momento, olhando
para o lugar onde ele costumeiramente ocupava, lamentei profundamente não ter parado na
cidade de Uberaba quando ele ainda era vivo…Senti muitas vezes a sua presença, na casa
onde ele dormia ou na sua casa de oração…Terminei minha visita com a certeza que eu
gostaria muito de poder voltar ali toda semana e ouvir muito mais à respeito da humildade
verdadeira, genuína…que muitos poucos conseguem praticar quando nessa vida passam…
No dia seguinte, subi no carro e toquei para Uberlândia e depois peguei um voo para BH…
Não me saia da cabeça…Que exemplo de ser humano…

Que extraordinário ser iluminado que esteve entre nós…Nunca mais voltei aquele lugar…A vida segue o seu rumo…

Meu muito obrigado e até a próxima, se Deus quiser.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *