Crônicas do cotidiano: Lampião, Maria Bonita e casais que fizeram histórias

Quando falamos de amor, nossa mente busca a historia de pessoas e casais ao nosso
redor, mas existem histórias que transformaram gerações e o amor existe de todas as
formas e para todo tipo de pessoa, somos abençoados por isso (no final do texto, veja
filme real, com imagens dos cangaceiros, publicado no YouTube).

A história de amor de Edith Piaf, que após sofrer tanto desde o nascimento e
encantar multidões com sua voz e seu hino La Vie En Rose, amou e deixou para trás
homens poderosos e acabou por se apaixonar por um amor muito mais jovem que a
conduziu até os últimos momentos de sua vida, permanecendo ao seu lado, até o fim.
O final dessa história é comovente e surpreende pelo exemplo de pré-julgamentos
equivocados, onde no final, a ternura e o amor do casal, venceram aqueles que
lutaram contra e, apontaram o dedo na direção errada. (veja a história no YouTube no
final da página)

Existem muitos exemplos de casais que amaram intensamente, também, os de casais
bandidos, que fizeram história, nossa mente busca aqueles que são os mais
conhecidos: Bonnie and Clyde. No filme produzido e idealizado por Warren Beatty e
dirigido por Arthur Penn, conta de maneira romanceada a história real de Bonnie
Parker e Clyde Barrow, um jovem casal de assaltantes de banco e assassinos que
aterrorizaram os estados centrais dos Estados Unidos durante a Grande Depressão
no país (Wikipédia).

Conhecendo Angico e a História de Lampião e seu bando
Viajava bastante para Maceió/AL. Quando posso dar uma escapada e beber da água,
das caipifrutas alagoanas, da doce ternura do povo nordestino (Hoje moro no Grande
Recife) distante cerca de 3 horas e pouco, no trecho entre Recife até Maceió, então o
negócio é ir e aproveitar ao máximo esses momentos de ternura. Ter acesso ao
paraíso e usufruir do que Alagoas oferece à cada viagem, novas descobertas.

Mas como é possível, um estado tão pequeno em dimensões territoriais, ser tão
grande em belezas naturais e um povo tão generoso? Lá acabo descobrindo coisas
fascinantes e novas amizades, com conterrâneos e com pessoas do lugar, pessoas
alegres e festeiras.

Na época que fui conhecer Angico, morava no Rio de Janeiro e cheguei em Maceió
no Natal…voo da TAM; Papai Noel devia estar pilotando, pois veio suave, suave na
aproximação para pouso na pista, em pleno meio dia…noutras vezes, chegava de
noite, às vezes, após a meia noite, a recepção nordestina se mostrava ali, na espera
para o abraço, o cheiro e o beijo, a alegria do encontro ou reencontro, uma alegria tão
intensa que deixam as capas pesadas das tensões irem se desfazendo enquanto desço
do avião e vou avançando pelo corredor até a sala de desembarque. Quando chego ao
salão de desembarque, deixava 100 quilos pelo caminho, ainda bem que a cia aérea
não cobrava este tipo de sobrepeso.

No dia seguinte, bem de manhã, pegamos o corisco (jeep Pajero) e partimos para
Piranhas…sim senhor! Lá em Alagoas existem cidades e vilarejos com nomes como:
Piranhas, Arapiraca, de Barra então lá tem 2…Barra de Santo Antonio e Barra de São
Miguel…lindas como a da Tijuca onde morava, mas com belezas como era a da
Tijuca anos atrás.

Ainda tem outras cidades: Batalha, Boca da Mata, Cacimbinhas, Chã Preta, Coité do
Noia, Coruripe,Craibas, Feliz Deserto…Flexeiras (quero passar bem longe…rsrs),
Girau do Ponciano, Ibateguara, Inhapi, Jacaré dos Homens…Maribondo..deve ter mel,
Minador do Negrão…de Olho tem três…D`Agua Grande, D´Agua das Flores e
D`Agua do Casado, Olivenca, Poço das Trincheiras…Roteiro…deve ter um monte de
roteiristas…Santana também tem duas…de Ipanema (olha o Rio aí gente) e do
Mundaú…São Luiz do Quitunde…prazer em conhecê-lo…São Miguel tem lugar
garantido no estado…São Miguel dos Campos e São Miguel dos Milagres, Satuba,
Tanque D`Arca e não poderia deixar de citar União dos Palmares (que merecerá um
texto à parte).

Lampião e Maria Bonita: 

A história do cangaço no Brasil, fez surgir um casal em fuga e também no seu bando, outros
casais deram mostra de coragem e paixão inequívoca, para alguns desses casais, a coragem
foi mais forte do que a valentia e, no final, apenas um casal sobreviveu no bando do
¨Capitão Virgulino¨. Sobreviveu porque o amor ditou a mudança e tomaram um novo rumo
que os manteve vivos por mais de 90 anos, dizem que ainda hoje estão vivos, essa história
do casal do cangaço, no final, faço menção especial à eles.

O estado de Alagoas tem parte importante na história do Brasil…elegeu Presidente,
participou ativamente da libertação dos escravos, a queda de Lampião e Maria Bonita…e
para terminar a citação de algumas das cidades com nomes curiosos, termino com
Viçosa…Viram? Nomes para quem é de fora soam de forma um pouco estranha, mas
sabemos que é o jeito alagoano de nomear um lugar e pronto! Deixei de fora alguns lugares;
mas essa história que escrevo é sobre um cabra nascido pernambucano, foi casado com uma
baiana, viveu entre os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Natal e morreu
pelas mãos da PM de Piranhas em Alagoas em terras Sergipanas.

Em toda história onde existe poder, dinheiro, vingança e luta existe um traíra e, nessa
também houve… o coiteiro, até então, homem de confiança do ¨Capitão¨, foi cabra safado,
traidor que entregou Lampião e seu bando para as volantes, traições, quaisquer, deveriam
ser motivo pela mesma moeda.

Lampião perdeu sua cabeça por Maria Bonita e não é para menos, a moça era bonita mesmo
para o padrão feminino da época. Vendo suas fotos, fiquei pensando, como pode uma moça
bonita para a época ter se enfiado no sertão, levada por um homem pelas terras das caatingas
em fuga? Tem que amar muito uma pessoa e ser também um(a) cabra muito macho(a) para
andar por aquelas bandas e ainda sendo caçados pelas volantes (grupo de policiais que
caçavam o Capitão e seu bando).

Viajando de Maceió/AL para Piranhas/AL

Pegamos o Corisco (Jeep Mitsubishi) e lá fomos percorrer os 320 Kms para o lado Oeste do
estado, sentido Paulo Afonso, no estado de Sergipe, beirando a divisa entre os estados da
Bahia, Alagoas e Pernambuco.

Piranhas para mim remete a um pensamento medonho mas nada malicioso… Piranha
mesmo, aquele peixe que devora seres humanos e Rio São Francisco me remetia em
pensamento a um rio muito largo, grande e profundo…Ô gente, estava pronto para o
banquete, ou seriam eu e minha partner o banquete? Terrores de lado, antes de chegar, achei
que Piranhas fosse um vilarejo onde o rio era o espetáculo…cheguei, dei uma olhada na
pousada e meu lado apaulistado começou a falar mais alto, quase implorando para voltar,
mas como fazer essa desfeita? Nem pensar, solicitação de acomodação maior e
pronto…finalmente, a simplicidade + a acolhida + a natureza se encarregaram de me mostrar
que meus conceitos não amadureceram com o tempo, se cristalizaram e tomei a primeira
mordida, mas de lição, pois a pousada, a cidade, os passeios, as pessoas eram o quintal do
paraíso de Alagoas, Maceió a capital.

Êita ranço que fica na espreita, aguardando que um Resort nos traga os melhores momentos,
as melhores acomodações, os melhores dias, enquanto é na simplicidade onde a felicidade
reside.

Descemos o rio São Francisco em direção ao litoral de Sergipe e chegamos com o barco até
uma prainha (cerca de 40 minutos de navegação) onde começa a subida até Angicos, o
mesmo remete a uma espécie de árvore que tem 3 espécies…Angico branco liso, vermelho e
do cerrado.

Permitam-me inserir um pouco do ¨Velho Chico¨como o rio São Francisco é conhecido
(fonte site www.suapesquisa.com) :

Localização e informações geográficas:

O rio São Francisco, popularmente conhecido por “Velho Chico”, nasce na Serra da
Canastra (Minas Gerais). Possui uma extensão de 2800 quilômetros e atravessa os estados
de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

O rio São Francisco desemboca no Oceano Atlântico e possui vários rios afluentes em sua
bacia hidrográfica: Abaeté, das Velhas, Paraopeba, Jequitaí, Paracatu, Verde Grande,
Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande.

O São Francisco possui uma grande importância econômica na região por onde passa, pois é
usado para navegação (em alguns trechos), irrigação de plantações e pesca. Em função desta
importância, existe um projeto do governo federal, nascido em governos anteriores e ainda
por terminar, que pretende fazer a transposição do rio para que as águas possam atingir
regiões que sofrem com a seca nordestina.

O rio São Francisco também é uma importante via de transporte de mercadorias na região.
Os principais produtos transportados, em embarcações especiais, são: sal, arroz, soja,
açúcar, cimento, areia, manufaturados, madeira e alguns minérios. Há também o transporte
de turistas, pois o passeio pelo rio é muito procurado.

Curiosidade: O rio São Francisco também é conhecido como rio da integração nacional.

Descemos do barco e fomos até um pequeno restaurante. Após alguns minutos fomos
apresentados ao nosso guia e sua mentora…A famigerada devoradora de lagartos da caatinga
de Angicos… A pequena Mirela:

A jovenzinha deve ter uns 12, 13 anos, miúda, mas com a coragem de Maria Bonita, subiu a
montanha na caatinga de chinelinho arrebentado a tira, ora descalça (maioria do trecho da
caatinga, cheio de pedras e espinhos) até chegar ao local onde os cangaceiros foram mortos
(grota do Angico) e enquanto eu tive que parar 2 vezes, ela com seu chinelinho saindo a
tirinha, descalça muitas vezes na subida, bermuda com marca de barro atrás, ignorou seus
chinelinhos estragados e subiu ladeira acima, só parando para matar com pedradas os
lagartos…na descida ví acertar oito…Ela era o inferno dos lagartos

Chegando no local da emboscada, dava para sentir o ar pairando sob o silêncio, um ar
impregnado de muita mistura de energias. Fiquei ali parado um pouco, imaginando o
cenário, a batalha, a carnificina, depois os urubus se fartando dos corpos sem cabeça de
Lampião, Maria Bonita e mais nove companheiros do bando.

Muito se escreveu sobre Lampião, abaixo reproduzo um pequeno texto extraído do portal
São Francisco (www.portalsaofrancisco.com.br):

Nascido em 1898, no Sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco, Virgulino
Ferreira da Silva viria a transformar-se no mais lendário fora-da-lei do Brasil. O cangaço
nasceu no Nordeste em meados do século 18, através de José Gomes, conhecido como
Cabeleira, mas só iria se tornar mais conhecido, como movimento marginal e até dando
margem a amplos estudos sociais, após o surgimento, em 1920, do cangaceiro Lampião, ou
seja, o próprio Virgulino Ferreira da Silva. Ele entrou para o cangaço junto com três
irmãos, após o assassinato do pai.

Com 1,79 ms de altura, cabelos longos, forte e muito inteligente, logo Virgulino começou a
sobressair-se no mundo do cangaço, acabou formando seu próprio bando e tornou-se
símbolo e lenda das histórias do cangaço. Tem muitas lendas a respeito do apelido Lampião,
mas a mais divulgada é que alguns companheiros ao ver o cano do fuzil de Virgulino até
vermelho, após tantos tiros trocados com a volante (polícia), disseram que parecia um
lampião. E o apelido ficou e o jovem Virgulino transformou-se em Lampião, o Rei do
Cangaço. Mas ele gostava mesmo era de ser chamado de Capitão Virgulino.

Lampião era praticamente cego do olho direito, que fôra atingido por um espinho,
num breve descuido de Lampião, quando andava pelas caatingas, e ele também
mancava, segundo um dos seus muitos historiadores, por conta de um tiro que
levou no pé direito. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até
cidades.

Dinheiro, prataria, animais, jóias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo
bando. “Eles ficavam com o suficiente para manter o grupo por alguns dias e
dividiam o restante com as famílias pobres do lugar”, diz o historiador Anildomá
Souza. Essa atitude, no entanto, não era puramente assistencialismo. Dessa
forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda
conseguia aliados.

Os ataques do rei do cangaço às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores
e governos estaduais a investir em grupos militares e paramilitares. A situação
chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um
cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse,
“de qualquer modo, o famigerado bandido”. “Seria algo como 200 mil reais hoje em
dia”, estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello. Foram necessários
oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu
bando fossem mortos. Mas as histórias e curiosidades sobre essa fascinante figura
continuam vivas.

Uma delas faz referência ao respeito e zelo que Lampião tinha pelos mais velhos e
pelos pobres. Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam para
jantar e pernoitar num pequeno sítio – como geralmente faziam. Um dos homens
do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de 80 anos,
tinha preparado um ensopado de galinha. O sujeito saiu e voltou com uma cabra
morta nos braços. “Tá aqui. Matei essa cabra…¨

Leiam o texto no Portal, vale a pena conhecer um pouco das versões que
escreveram sobre Lampião, Maria Bonita e os cangaceiros… O lado cruel do final
dessa história do Capitão Virgulino e sua amada Maria Bonita e os 9 seguidores,
foi que foram executados em menos de 15 minutos e o Capitão foi o primeiro a
cair, depois foram todos decapitados …Essa é uma história onde não houve um
final feliz, uma história de Ambição, Injustiça, Violência, Traição e Mortes.

Somente a volta de barco, subindo de novo o Velho Chico, conhecendo o novo
casal de amigos, a noite, sentado nas mesinhas em frente aos bares de Piranhas,
tomando uma cerveja gelada, olhei ao redor e cheguei à conclusão que as
piranhas devoram mesmo seres humanos, mas naquela noite, naquele lugar, eu
iria devorar mesmo é aqueles petiscos na mesa!

Na foto: Antonio Moreno e Durvalina (casal à esquerda) na época em que ainda participavam do Bando de
Lampião.

Cada membro do grupo de Lampião tem uma história, como a de Antonio Moreno
e Durvinha. Moreno, cujo nome de batismo era Antônio Ignácio da Silva, morreu
em 2010, aos 100 anos; sua companheira, Durvinha, na verdade Durvalina
Gomes de Sá, faleceu dois anos antes, aos 93, suas histórias são narradas pelo
escritor João de Souza Lima.

O livro vem recheado de fotos de Lampião, Maria Bonita e seu bando e uma parte
da história que vale a pena conhecer, pois esses personagens são parte do folclore
e cultura nordestina de nosso pais.

Quem puder acrescentar uma escapadinha para Piranhas/AL estando em Maceió/
AL não irá se arrepender, navegar no velho Chico (rio São Francisco) é uma
experiência única, conhecer Piranhas e se hospedar nessa cidade cheia de história
e bares com mesinhas instaladas na rua após as 18hs, sob um luar tipico da
região, navegar na parte alta do Rio, após a represa de Paulo Afonso e conhecer
as dunas, os canyons, somente esse passeio, mais conhecer locais que fazem
parte da história já valem a viagem toda.

Na volta, depois de descansar em Maceió que ninguém é do cangaço, fomos à
Paripueira e pegamos um Catamarã e seguimos para as piscinas naturais
afastadas da costa., depois as Dunas de Marapé…

mas…aí é outra história, outro cenário do mesmo paraíso, conto em outra
oportunidade…Caribe? Sim vale a pena conhecer. As praias de Alagoas também e ainda
tem as piscinas naturais.

Abençoados aqueles que amam e vivem uma linda história de amor, para esses, já terá
valido a pena viver essa vida!

Aproveite e visite a Livraria Amazon e adquira o meu livro lançado recentemente, ele
está por R$ 41,00 com frete gratuito – www.amazon.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *