DÓLAR DISPARA.

DÓLAR FECHA A R$ 5,84 APÓS CORTE DE JUROS E SOCORRO A ESTADOS 

Após mais uma redução na taxa básica de juros do Brasil e a aprovação do socorro a estados e municípios com uma economia fiscal reduzida, o dólar comercial se fortaleceu contra o real e bateu novo recorde nesta quinta-feira (07). A moeda americana fechou com alta de 2,51%, valendo R$ 5,845. Na máxima dessa sessão, chegou a alcançar R$ 5,876, maior valor de cotação intradiário já registrado. Na Bolsa, o Ibovespa (índice de referência da B3) cai 0,53%, aos 78.642 pontos. 

O mercado esperava um corte de 0,5 ponto percentual nos juros, mas o Banco Central (BC) reduziu a taxa Selic em 0,75 ponto percentual. Assim, ela passou de 3,75% para 3% ao ano, menor patamar da série histórica. Nesta sessão, a autoridade colocou US$ 500 milhões no mercado por meio de leilão de swap cambial (venda de dólar no mercado futuro).

A relação entre a redução da Selic e a alta do dólar se dá por conta da falta de atratividade, na operação conhecida como carry trade.  Neste sistema, investidores tomam empréstimos em países com juros baixos ou até negativos para investir em títulos públicos de nações com juros elevados, na busca por rentabilidade alta e risco baixo.

Com a queda dos juros no Brasil, esse tipo de operação perde atratividade. Além disso, diante das incertezas econômicas geradas pela pandemia do novo coronavírus, investidores têm comprado dólares, o que contribuiu para o avanço da cotação da moeda nas últimas semanas.

“O BC cortou os juros de forma mais agressiva e sinalizou que outros cortes podem vir, o que tira o apelo de carry trade da moeda. Além disso, além das crises de saúde e econômica, o Brasil também enfrenta uma crise política, o que acaba sendo refletido nos mercados, em especial o câmbio”, avalia Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.

Rostagno destaca que a votação do auxílio a estados e municípios no Senado, cuja economia fiscal foi reduzida em R$ 87 bilhões, também deixa o mercado em alerta:

“O texto aprovado pelo Senado adiciona incerteza sobre o cenário fiscal do Brasil”. 

O estrategista complementa que este é mais um ingrediente que gera preocupações a respeito do desgaste de Paulo Guedes no governo. Rostagno pontua que o mercado enxerga ele como a âncora fiscal do governo, e que as medidas de socorro que estão sendo aprovadas vão de encontro com a agenda do ministro, deixando o mercado receoso.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro voltou a destacar o espaço do ministro Paulo Guedes em seu governo. Bolsonaro indicou que a agenda econômica está sob o comando de Guedes e que, a conselho do ministro, deverá vetar o reajuste de salários a servidores públicos. 

“A demonstração de parceria entre presidência e Ministério da Economia ajuda a melhorar um pouco  o humor do mercado. Porém, os investidores seguem muito atentos à situação fiscal do país e de que forma o Executivo vai lidar com os crescentes gastos públicos”, pontua Flávio Byron, sócio da Guelt Investimentos.

A agenda internacional também pesa sobre o câmbio. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump voltou a levantar dúvidas sobre o acordo comercial firmado entre Pequim e Washington. O republicano disse que está observando “atentamente” se o gigante asiático está cumprindo com os termos assinados no início do ano. 

“O dólar chegou a este patamar por uma série de fatores. A Selic foi o mais recente, mas também entram nesta esteira a preocupação dos investidores com a situação fiscal do Brasil e as tensões internacionais causadas pelo coronavírus e, agora, com declarações do presidente Trump sobre o acordo comercial com a China”, destaca Robert Indech, estrategista-chefe da corretora Clear.

Enquanto o mercado acionário brasileiro registrou queda nesta quinta, os índices americanos fecharam no terreno positivo, à medida em que são debatidas novas ações para reabrir a economia do país. 

O Dow Jones encerrou o dia com alta de 0,89%. S&P 500 e Nasdaq fecharam com valorização de, respectivamente, 1,11% e 1,41%.

No Ibovespa, o setor bancário, de maior peso no índice, contribuiu para o fechamento em baixa da Bolsa de São Paulo. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) do Banco do Brasil caíram 1,89%. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) de Bradesco e Itaú Unibanco perderam, cada, 3,46% e 3,24%.

Ainda no mercado internacional, o barril de petróleo tipo Brent recuava 1,82% na hora do fechamento dos negócios do Brasil, a US$ 29,18.

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