MÉDICO RESPONSÁVEL PELA PESQUISA DE VACINA DO COVID-19 NO BRASIL ESTÁ EM ISOLAMENTO

Na última sexta-feira (14) o médico Jorge Kalil se dedicava profundamente aos estudos sobre a pandemia do novo coronavírus, no laboratório de imunologia do (Incor) Instituto do Coração do qual é diretor, trabalhando em uma busca por uma vacina contra o Sars-cov-2, como o vírus é chamado ultimamente.

O imunologista lidera uma equipe composta por cientistas da Faculdade de Medicina de São Paulo (USP) e do Incor. Há duas semanas, logo após o primeiro caso diagnosticado no Brasil, os especialistas tentam desenvolver uma forma de imunizar as pessoas com o Sars-cov-2.

Em meio às pesquisas para a vacina, o médico de 66 anos de idade (que se enquadra no grupo de risco por ter mais de 60 anos) descobriu que pode ter contraído o novo coronavírus, pois seu filho de 34 anos de idade foi diagnosticado com a Covid-19.

“Ele jantou na minha casa na última terça-feira, quando já estava com o vírus. Por isso, eu e minha esposa estamos em isolamento”, diz a BBC News Brasil. Eles estão reclusos desde sábado (14), após o filho fazer os exames.

O médico está acompanhando à distância os estudos sobre a elaboração da vacina. “Não preciso estar presente fisicamente. Posso fazer as discussões por teleconferência. Os estudos estão acontecendo normalmente”, diz o cientista. 

“Os outros membros estão bem. Desde o princípio, eu tomava os cuidados adequados. Lavava as mãos várias vezes por dia, usava álcool em gel e tentava evitar contatos próximos com as pessoas”, explica. 

Kalil estuda métodos de imunização há mais de 30 anos. Ex-diretor do Instituto Butantan, ele ajudou, por exemplo, na produção de uma vacina contra a dengue. Recentemente, estava focado nas vacinas contra o Streptoccus pyogenes, que causa a febre reumática e cardiopatia reumática crônica, e em outra contra o chikungunya. As pesquisas são financiadas pela (Fapesp) Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 

Quando surgiram os primeiros registros do novo coronavírus no Brasil, ele deixou todas as outras pesquisas para depois. Junto com sua equipe, decidiu se dedicar exclusivamente a uma vacina para tentar combater o Sars-cov-2. A pesquisa também é financiada pela Fapesp.

Os cientistas brasileiros irão sintetizar em laboratório uma parte de uma proteína do coronavírus, importante para penetração na célula.

Por meio do método, os cientistas planejam chegar, nos próximos meses, a uma vacina. Primeiro, ela será testada em camundongos. Caso os testes tragam bons resultados, a expectativa é de que possa ser aplicada em pacientes em até um ano e meio.

A estratégia é diferente da que tem sido adotada por indústrias e cientistas de outros países, que também tentam desenvolver a primeira vacina contra o novo coronavírus, até o início de março havia mais de oito projetos em diferentes países. 

Enquanto a vacina dos brasileiros busca recriar uma parte da proteína do vírus, as de outros países recorrem a métodos que envolvem a inserção de moléculas sintéticas de RNA mensageiro (mRNA), que têm as instruções para a produção de alguma proteína reconhecível pelo sistema imunológico. Nas pesquisas feitas em outros países, o objetivo é que o sistema imunológico reconheça as proteínas artificiais para que elas possam ajudar no combate ao coronavírus.

Já a plataforma usada pelos pesquisadores brasileiros, conforme a Fapesp, é fundamentada no uso de partículas semelhantes a vírus (VLPs, na sigla em inglês de vírus like particles), tal semelhança faz com que sejam facilmente reconhecidas pelas células do sistema imune.

Desta forma, segundo os estudos brasileiros, as VLPs, que não têm material genético do vírus, o que impossibilita a replicação, são introduzidas no sistema imunológico junto com os antígenos (substâncias que fazem com que o sistema imunológico produza anticorpos). Assim, auxiliam na produção de uma resposta imune ao novo coronavírus.

“Neste momento, resolvemos canalizar os esforços nessa vacina para o novo coronavírus. É algo muito importante agora”, pontua Kalil.

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